09 junho 2006

O reencontro com a vida

Depois de nove anos confinada às quatro paredes da casa, Maria Helena Arruda redescobriu a vida com uma cadeira de rodas eléctrica.

A cadeira de rodas eléctrica desliza suavemente pelo empedrado de uma das ruas do centro histórico de Santarém. Maria Helena Arruda conduz a máquina com a força que ainda conserva na mão direita. Ocupa um lugar na esplanada do Largo do Seminário. Sem precisar de qualquer tipo de ajuda. E sorri.
Nove anos depois de viver enclausurada entre as quatro paredes da casa Maria Helena, 40 anos, portadora de Esclerose Lateral Amiotrófica, decidiu finalmente partir à aventura da vida. Ao comando da cadeira de rodas eléctrica oferecida pelo empresário Armando Cardoso o Natal passado. O presidente do conselho de administração da Conforlimpa foi o único a responder ao apelo lançado pela prima de Maria Helena, Isilda Arruda.
A pose da mulher, de ar descontraído, profundamente feliz, não faz ninguém ficar indiferente. Até há quem julgasse que já tivesse partido. “Esta mulher é um espectáculo”, diz um amigo que já não reencontrava há 20 anos.
Às sete da manhã Maria Helena já está de olho aberto. Antes de ir para o trabalho o marido ajuda-a na higiene diária. Veste-a, coloca-lhe a pulseira e o colar. Estende-lhe a mala sobre o colo. Maria Helena enfrenta sozinha a íngreme Calçada do Monte, onde reside, até ao centro da cidade.
A cadeira eléctrica desce o passeio do prédio numa zona mais gasta. E segue em plena faixa de rodagem subindo a calçada. Há condutores que buzinam. Alguns comentam. Outros sorriem. Elogiam a coragem. Ninguém fica alheio à passagem da mulher.
Maria Helena debate-se todos os dias com as barreiras arquitectónicas. A maioria dos passeios não está rebaixada. “No dia que um presidente da Câmara de Santarém tiver um filho deficiente tudo isto muda”, lamenta.
Os funcionários da pastelaria onde passa todos os dias já a conhecem. Servem-lhe o café à boca. A senhora da perfumaria coloca-lhe o rímel e a sombra. As amigas das lojas do centro histórico são a sua companhia. É lá que passa o dia. “Somos muito mais felizes desde que a Maria Helena está connosco. É uma lição de vida”, comentam.
Maria Helena nunca mais dormiu a sesta para matar as horas do dia. Deixou de passar o dia em pijama para não dar trabalho. Não mais precisou de pedir que lhe comprassem um presente. É ela quem calcorreia as lojas do centro histórico e do centro comercial. Experimenta sandálias, fatos de banho, veste roupas e vai ao cabeleireiro.
Antes de ir para casa passa no hipermercado. Curiosamente é aí que encontra as maiores dificuldades. “Quando as pessoas ouvem a frase: ‘dá-me uma ajuda? ‘ Acham logo que se está a pedir dinheiro”.
Foi também por isso que numa destas tardes em que partiu à aventura pelo centro histórico de Santarém, Maria Helena foi surpreendida por alguém que lhe colocou uma moeda na mão.
Apesar da incompreensão de alguns o reencontro com as pessoas foi o que de melhor lhe trouxe a cadeira. O equipamento até tem um sistema de telemóvel, mas a Maria Helena bastaram-lhe os anos em que o telefone era a sua única ligação com o mundo.Foram precisos quatro meses e a chegada da Primavera para se aventurar no mundo real com a cadeira. Começou com ajuda do marido, nas traseiras do prédio. Para perder o medo. Como quem aprende a andar de bicicleta. Hoje é o companheiro que fica preocupado quando são oito da noite e Maria Helena não regressou ainda da rua.
Fonte: O Mirante

4 Comments:

At 8:46 PM, Anonymous Anônimo said...

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At 9:44 PM, Anonymous Anônimo said...

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At 6:22 PM, Anonymous Anônimo said...

Cara Maria Helena
ao ler o blog fiquei com lagrimas, porque a mim tambem já me ofereceram dinheiro ao eu pedir ajuda, mas não ligue a isso, saia para a rua sempre de bem com a vida, mesmo sendo deficiente, porque se cremos ver os nossos familiares e amigos bem, temos de fazer por isso,os amigos e a familia sao bens preciosos,
eu tenho 53 anos saio todos os dias, fiquei á 4 anos biamputado dos membros inferiores resultado de acidente de comboio.
quanto ás barreirasarquitectonicas exija que a Camara Municipal as ilemine, na minha cidade (MAIA)existe muitas barreiras, e a camara tambem não faz nada para as remover, tenho o caso no gabinete do conselho de ministros, e na Associação Portuguesa de Deficientes, estou de acordo com sigo quando diz se o Presidente tive-se alguem deficiente de sertesa ileminava as barreiras,
pus o caso das barreiras ao ministro da administração interna e a Camara já foi inquerida pela inspeção-Geral do Territorio,val apena lutar por aquilo a que temos direito, que é ter melhor qualidade de vida.
Tire fotos das barreiras mande para o Presidente da camara em carta registada a exijir a remoção das mesmas, num praso aceitavel 15 dias para resposta, caso não tenha resposta envie para o gabinete do conselho de ministros, e para a associação portuguesa de deficientes explicando o caso.
o que digo a todos os deficientes é que não se fechem em casa, saiam nem que seja uns metritos mas saiam, e lutem para que haja menos barreiras, nós somos cerca de um milhao, se sairmos todos para a rua os autarcas e o governo teem que eliminar as barreiras, não roubo mais tempo, cumprimentos

 

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