27 fevereiro 2007

Cientistas criam neurônios a partir de pele humana

Células-tronco da pele de adultos foram estimuladas a gerar células nervosas
CIDADE DE QUÉBEC, CANADÁ - Cientistas da Faculdade de Medicina da Université Laval anunciam ter obtido sucesso na tentativa de produzir neurônios a partir de células-tronco extraídas da pele de seres humanos adultos.
O processo usado é descrito pela equipe do pesquisador François Berthod em uma edição recente da revista especializada Journal of Cellular Physiology.
Os cientistas usaram pele obtida a partir de cirurgias plásticas. As amostras foram tratadas para permitir a extração de células precursoras de neurônios, que foram cultivadas em laboratório.
Os exames realizados pelos pesquisadores mostraram que as células-tronco da pele podem se reproduzir e diferenciar em laboratório, quando submetidas a um ambiente adequado.
Aos poucos, elas adotaram o formato de neurônios e, no nível bioquímico, começaram a gerar moléculas associadas à transmissão de impulsos nervosos. "Isso sugere o início da formação de sinapses", disse Berthod.
Fonte: O Estadão

23 fevereiro 2007

'Pai' de Dolly fala sobre futuro da clonagem

Em artigo para o G1, o britânico Ian Wilmut defende uso da técnica para testar drogas.
Pesquisador critica foco em terapias e diz que ainda se sabe pouco sobre o processo.
Novas e revolucionárias oportunidades para a medicina foram iniciadas com o desenvolvimento, há dez anos, de métodos para obter filhotes de mamíferos pela transferência da informação genética de uma célula somática (adulta) para um óvulo da qual a informação genética havia sido removida. Isso tornou possível a realização de modificações genéticas precisas em animais e também criou outras oportunidades inesperadas. Em particular, as células-tronco derivadas de embriões humanos clonados podem ser usadas para estudar doenças humanas hereditárias e, talvez um dia, para tratar doenças. Desde o nascimento de Dolly, conseguimos progressos consideráveis em relação ao nosso objetivo inicial, mas muito menos em relação à produção de células clonadas.
Anticorpos humanos no gado?
A transferência nuclear está sendo usada por Jim Robl [da empresa americana Hematech] e seus colaboradores para produzir anticorpos humanos no gado. Isso envolve a transferência de fragmentos muitos grandes de cromossomos e a deleção [apagamento] da informação genética bovina equivalente a esses fragmentos. As seqüências de DNA que contêm o código para a produção das imunoglobulinas humanas são muito grandes. Para introduzir essas seqüências em células bovinas, eles construíram um microcromossomo que contém não só esses trechos de DNA, mas também um método para identificar as células que carregam os genes humanos. O cromossomo foi introduzido em células fetais, que foram usadas como doadoras de núcleos.
Dessa maneira, foram produzidos bezerros nos quais o pequeno cromossomo adicional estava presente numa proporção de 78% a 100% das células. A análise de proteínas e de células do sangue coletadas desses animais mostrou a presença de anticorpos num nível comparável ao presente em bezerros normais. Entretanto, alguns desses anticorpos vinham dos genes humanos transferidos, enquanto outros vinham dos genes dos próprios bezerros. Uma separação completa entre anticorpos humanos e bovinos é impraticável.Agora, na nova fase do projeto, uma técnica parecida está sendo usada para remover as seqüências genéticas bovinas, de forma que a próxima geração de bezerros só produza proteínas humanas.


A produção de grandes quantidades de anticorpos humanos seria de enorme valor clínico. Eles poderiam ser usados no diagnóstico de doenças ou, em longo prazo, para tratar doenças. Mesmo que um paciente não produza anticorpos contra um câncer ou algumas infecções virais, como a do HIV, se as proteínas dessas células forem administradas ao gado, a produção de anticorpos poderia ser viável. Por serem provenientes de genes humanos, eles seriam mais adequados para os pacientes.

Transplantes de órgãos de animais

Haveria um enorme benefício potencial em identificar uma nova fonte de órgãos para transplante, já que há uma enorme demanda por esses órgãos. Os porcos normalmente são escolhidos como a espécie mais apropriada como doadora, por causa da semelhança em tamanho e fisiologia, disponibilidade de métodos de criação de rotina, fecundidade e distância genética dos seres humanos. Entretanto, se um tecido suíno normal é transplantado para humanos, normalmente acaba destruído muito rapidamente pela chamada “rejeição hiperaguda”. Essa reação dramática é causada pela presença, na superfície das células suínas, de uma molécula de açúcar que não existe nas células humanas.

Parecia razoável propor que os órgãos suínos seriam mais adequados para transplante se fossem feitas modificações genéticas que impedissem a adição desse açúcar na superfície das células. A transferência nuclear possibilitou que dois grupos de cientistas dos EUA conseguissem isso.

Testes feitos com o coração desses porcos mostraram aumentos consideráveis na duração de seu funcionamento depois que ele foi transplantado para babuínos. Quando órgãos são transplantados de porcos comuns para esses macacos, os transplantes normalmente fracassam em 24 horas, com sinais de congestão vascular generalizada, hemorragias e edemas. A sobrevivência mais longa até hoje foi observada com os suínos geneticamente modificados – nesses casos, o transplante durou entre dois e seis meses, com sobrevivência média de 78 dias. Não houve sinais de mortalidade causada por infecção, uma vez que, dentre mais de cem amostras de sangue, apenas três se mostraram contaminadas, e não houve complicações clínicas. Nesses animais, a causa da falha do transplante é desconhecida e ainda precisa ser entendida e superada.

Células de embriões humanos clonados
A capacidade de derivar células-tronco de embriões humanos clonados vai trazer novas oportunidades para o estudo das doenças humanas hereditárias. Se o erro num gene que causa uma doença já foi identificado, existem outras abordagens. Entretanto, as células produzidas a partir de um embrião clonado de um paciente com uma forma hereditária da doença terão as características dessa doença, mesmo se a mutação no DNA for desconhecida. Um desses casos é a família de moléstias conhecidas como doença do neurônio motor, esclerose lateral amiotrófica ou doença de Lou Gehrig [que levam à perda progressiva dos movimentos do corpo].

O objetivo desse tipo de pesquisa é estabelecer uma forma precisa e rápida de testar a capacidade de pequenas moléculas para deter mudanças degenerativas nos nervos. Os compostos selecionados a partir da resposta das células clonadas seriam então submetidos a mais estudos em animais de laboratório antes de seu uso em terapias. A mesma abordagem poderia ser usada para estudar muitas doenças genéticas humanas. A vantagem é maior se a mutação que causa a doença não for conhecida. Também é essencial que os tipos celulares afetados possam ser produzidos a partir de células-tronco embrionárias no laboratório e que seja possível fazer avaliações funcionais dessas células. Entre as doenças candidatas a esse tipo de estudo estão outras doenças neurodegenerativas, cardiomiopatias (doenças do coração) e algumas formas de câncer.
Embora o valor potencial dessa utilização da transferência nuclear seja mais compreendido hoje do que há dez anos, muito pouco progresso foi conseguido. De fato, a área foi atrapalhada por afirmações fraudulentas de sucesso na Coréia do Sul [feitas pelo pesquisador Woo-Suk Hwang e seus colegas] que atraíram atenção mundial. Devemos ter toda a compaixão com as mulheres que doaram óvulos para essa pesquisa, com os pesquisadores do grupo que não se envolveram nesse engodo e, principalmente, com os pacientes que foram levados a esperar um tratamento para suas doenças degenerativas.
Perspectiva de longo prazo
A experiência dos últimos dez anos sugere que pelo menos algumas de nossas esperanças vão se transformar em realidade, mas ainda precisamos aprender muita coisa. Complexas modificações genéticas já foram conseguidas, mas parece provável que a disponibilidade de células-tronco embrionárias de animais facilitaria o processo.
Atualmente, os métodos da clonagem são replicáveis e estão sendo usados por muitos laboratórios pelo mundo, mas são ineficientes. Essa baixa eficiência geral reflete o fracasso dos procedimentos atuais na hora de reprogramar os padrões de expressão [ativação] de genes, fazendo com que eles deixem de ser os apropriados para uma célula adulta e se tornem os necessários para o desenvolvimento normal de um embrião. Não se sabe se anormalidades parecidas na expressão gênica vão ocorrer em células-tronco embrionárias derivadas de embriões clonados.
Essas células trazem a esperança de novos tratamentos, e muitos sugerem que “células específicas para cada paciente” derivadas de embriões clonados trariam a vantagem de não provocar rejeição. Entretanto, é preciso estudar detalhadamente as células produzidas por essa técnica antes de considerar seu uso terapêutico. Nessas circunstâncias, seria mais razoável primeiro usar essas células para pesquisa. Na pressa em passar para a terapia, o valor potencial de células de embriões clonados na descoberta de novos remédios está sendo negligenciada.
Fonte: G1

20 fevereiro 2007

Cérebro pode criar novos neurônios, diz estudo

Pesquisadores neozelandeses e suecos descobriram um tipo de célula no cérebro que se regenera de forma contínua.
Os pesquisadores da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, e da Academia Sahigrenska, na Suécia, mostraram que o cérebro 'estoca' células-tronco que migram para criar novas células que processam o olfato.
As células-tronco – que podem se conformar a diferentes tipos de tecido – ficam "em repouso" em cavidades chamadas ventrículos cerebrais.
Em ratos e camundongos, demonstrou-se que de lá elas viajam até o bulbo olfativo – a região do cérebro que registra cheiros – transformando-se em neurônios durante o trajeto.
Este mecanismo não havia demonstrado em humanos. Agora, os pesquisadores identificaram o tubo que continha células-tronco se transformando em neurônios durante o trajeto.
Os cientistas agora precisam descobrir como estas células conseguem chegar à parte certa do cérebro.
Especialistas afirmam que a descoberta, publicada na revista Science, abre espaço para pesquisas no tratamento de doenças do cérebro, como o mal de Alzheimer.
"Entender a biologia de células-tronco é essencial para estudar formas de reparar o cérebro em doenças neurodegenerativas como mal de Alzheimer", disse o professor Sebastian Brandner, chefe da divisão de neuropatologia no Instituto de Neurologia, University College em Londres.
"E é até possível que células-tronco sejam a fonte de alguns tumores no cérebro", ele afirmou.
Fonte: BBC

16 fevereiro 2007

A maldade é genética?

Os brasileiros assistiram mais uma vez, chocados, a um crime bárbaro: o assassinato de uma criança inocente, arrastada por quilômetros no Rio de Janeiro, com uma crueldade indescritível.
Com triste lembrança e associação a outros crimes hediondos, como os praticados por Suzane von Richthofen, “Champinha” ou os bandidos de Bragança Paulista (que atearam fogo no carro); levanta-se uma questão muito polêmica: será que não existe uma predisposição genética para tanta maldade?
Cientistas que estudam o comportamento humano sugerem que várias características de nossa personalidade (como espírito de liderança, timidez ou simpatia, entre outras) dependeriam de uma interação entre os nossos genes e o ambiente. Esse tipo de herança é denominada “multifatorial”.
Várias doenças humanas ou problemas de saúde também obedecem a esse padrão. A tendência à hipertensão é um exemplo. Ou seja: as pessoas que nascem com essa predisposição genética só ficariam hipertensas quando submetidas a condições ambientais desfavoráveis (fumo, estresse, obesidade ou alimentação inadequada etc.), unindo assim fatores genéticos e ambientais.
Chocada com as manchetes atuais, pergunto-lhes, caros leitores: será que existem genes predisponentes à maldade ou a comportamentos como os desses bandidos, que cometeram essa atrocidade com um menino de apenas seis anos? Ou será que a pessoa se torna assassina porque foi criada em um ambiente violento, sem família ou com privações?
Afinal, nosso instinto natural é o de proteger uma criança, mesmo que não seja nosso filho. Aliás, isso é tão forte que acontece também no reino animal. Quantas vezes não vimos fêmeas amamentarem filhotes que perderam suas mães, numa tentativa (provável) de preservar a espécie?
Se existem dúvidas em relação a um “instinto assassino”, existem evidências (a partir de experimentos feitos com gêmeos ou filhos adotivos) comprovando que em outras características comportamentais -- tais como o alcoolismo -- há um componente genético importante.
Uma das experiências mais interessantes nesse sentido foi feita há alguns anos, por um grupo de pesquisadores que resolveram estudar como macacos se relacionam com o álcool, em uma pesquisa envolvendo um grupo de mil animais (macacos vervet no Caribe).
Observaram que 15% deles se tornaram alcoólatras; no outro extremo, também havia cerca de 10 -15% que não chegavam nem perto da bebida. O restante do grupo (ou seja, 70% dos animais) tomava a bebida em doses pequenas e não aumentava o consumo -- mesmo em situações com uma oferta maior.
Em seguida, os pesquisadores fizeram uma nova experiência: “qual era o horário preferido para a ingestão da bebida?”
Verificaram, então: aqueles que se tornaram viciados, preferiam beber de manhã, em jejum, ou com a bebida misturada à água. Por outro lado, os 70% (que bebiam em quantidade moderada) preferiam tomar o álcool no fim da tarde, misturada a alguma outra bebida doce, exatamente como acontece nos nossos “happy hours!”
Em resumo, a conclusão do estudo é que o comportamento dos macacos, em relação ao alcoolismo, é idêntico ao comportamento humano. Como esses animais não sabem o que é “socialmente” correto ou condenado, isso comprova que existe uma contribuição genética para a tendência ou não ao alcoolismo.
Se existe ou não uma predisposição genética relacionada a comportamentos criminosos é um assunto muito polêmico; objeto de grandes discussões entre geneticistas comportamentais, psicanalistas e psicólogos. Mas a maioria concorda que indivíduos capazes de fazer crimes bárbaros são irrecuperáveis.
Uma porcentagem enorme da população apóia a pena de morte para crimes como esses. Outros são contra e continuam defendendo os “direitos humanos” para esses bandidos.
Na minha opinião, não se trata de diminuir a idade penal ou de aumentar o tempo de reclusão. Para crimes como esses, deveria haver prisão perpétua, com trabalhos forçados. O nosso código penal tem que ser mudado urgentemente! A população inocente está clamando desesperadamente por isso.
Fonte: G1

14 fevereiro 2007

Questão de respeito

Direito à saúde não deve ser visto só sob ótica financeira por Cassiano Rodrigues Botelho

Há alguns anos, o Poder Judiciário começou a receber ações judiciais de pessoas portadoras das mais variadas doenças, muitas delas raras e com alto custo de tratamento. Estas pessoas, impossibilitadas de receber tratamento médico por questões financeiras, passaram a requerer judicialmente que o poder público arcasse com os custos de cirurgias, próteses e medicamentos.
Tais cidadãos basearam suas pretensões no artigo 196 da Constituição Federal, que cunhou a famosa expressão “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. Ora, é sabido que o atendimento público à saúde é precário e não alcança toda a população. Mais do que isso, determinados tipos de procedimentos clínicos ou medicamentos simplesmente não são fornecidos pelo poder público apenas em razão de seu custo, sem que sejam considerados os
benefícios para a saúde do paciente.
O direito à saúde é assegurado também pela Lei 8.080/90, a mesma lei que criou o Sistema Único de Saúde (SUS) e que garante o fornecimento gratuito de medicamentos pelo Estado ao estabelecer que “estão incluídas no campo de atuação do SUS a execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica”.
Ao buscar o atendimento de suas necessidades médicas pelo Estado, a população nada mais faz do que buscar um de seus mais importantes direitos assegurados pela Constituiço Federal e pelas leis vigentes, o direito à saúde.
Mesmo assim, o poder público contesta todas as ações, geralmente argumentando que fornece outros procedimentos ou medicamentos para o tratamento das doenças. Apenas não menciona que os medicamentos oferecidos são antigos, de baixa eficácia no combate às enfermidades e o que parece ser o ponto mais importante para o Estado muito mais baratos do que os medicamentos de última geração.
Expliquemos. O Ministério da Saúde vem editando protocolos clínicos para o tratamento de diversas doenças, nos quais padroniza quais procedimentos clínicos, cirúrgicos e farmacológicos serão aplicados pelos médicos e enfermeiros do SUS no tratamento de seus pacientes.
Nada há de errado em padronizar as ações de saúde, diante da diversidade de tratamentos existentes na medicina, pois tais protocolos visam dar um tratamento igualitário e universal aos pacientes em todo o território nacional.
O problema surge quando se examina cada protocolo clínico e os tratamentos existentes para cada doença. Logo se verifica que os protocolos muitas vezes não prevêem tratamentos para casos mais complexos ou avançados, que exigem tratamentos mais custosos, ignorando a existência de modernas técnicas e produtos disponíveis na avançada medicina de nossos dias.
O próprio Ministério da Saúde não nega que, objetivando universalizar tais protocolos, deixa de incluir procedimentos custosos nos protocolos. Ou seja, o critério para a padronização dos tratamentos fornecidos não é técnico/médico, mas sim financeiro, deixando inúmeras pessoas sujeitas a graves seqüelas ou até mesmo à morte.
Um direito constitucional tão relevante não pode ser visto apenas sob a ótica financeira, mas sim em respeito à Constituição Federal, norma da qualsemana o próprio Estado Democrático de Direito e seus direitos e garantias fundamentais.
Por tal motivo, o Poder Judiciário não poderia ter respondido de forma diferente. Do Supremo Tribunal Federal à primeira instância, passando pelo Superior Tribunal de Justiça e pelos tribunais estaduais, são inúmeras as decisões judiciais assegurando tratamentos variados à população e que o poder público se negara a fornecer.
Entre as mais relevantes, destacamos a seguinte decisão do Superior Tribunal de Justiça, que analisou a questão sob todos os aspectos e afastou todas as alegações estatais, garantindo, em sua máxima amplitude, o direito à saúde:
“CONSTITUCIONAL. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA OBJETIVANDO O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO RILUZOL/RILUTEX) POR ENTE PÚBLICO A PESSOA PORTADORA DE DOENÇA GRAVE: ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA. PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. DIREITO À VIDA (ART. 5º, CAPUT, CF/88) E DIREITO À SAÚDE (ARTS. 6º E 196, CF/88). ILEGALIDADE DA AUTORIDADE COATORA NA EXIGÊNCIA DE CUMPRIMENTO DE FORMALIDADE BUROCRÁTICA.
1 – A existência, a validade, a eficácia e a efetividade da Democracia está na prática dos atos administrativos do Estado voltados para o homem. A eventual ausência de cumprimento de uma formalidade burocrática exigida não pode ser óbice suficiente para impedir a concessão da medida por que não retira, de forma alguma, a gravidade e a urgência da situação da recorrente: a busca para garantia do maior de todos os bens, que é a própria vida.
2 – É dever do Estado assegurar a todos os cidadãos, indistintamente, o direito à saúde, que é fundamental e está consagrado na Constituição da República nos artigos 6º e 196.
3 – Diante da negativa/omissão do Estado em prestar atendimento à população carente, que não possui meios para a compra de medicamentos necessários à sua sobrevivência, a jurisprudência vem se fortalecendo no sentido de emitir preceitos pelos quais os necessitados podem alcançar o benefício almejado (STF, AG nº 238.328/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 11/05/99; STJ, Resp nº 249.026/PR, Rel. Min. José Delgado, DJ 26/06/2000).
4 – Despicienda de quaisquer comentários a discussão a respeito de ser ou não a regra dos arts. 6º e 196, da CF/88, normas programáticas ou de eficácia imediata. Nenhuma regra hermenêutica pode sobrepor-se ao princípio maior estabelecido, em 1988, na Constituição Brasileira, de que ‘a saúde é direito de todos e dever do Estado’ (art. 196).
5 — Tendo em vista as particularidades do caso concreto, faz-se imprescindível interpretar a lei de forma mais humana, teleológica, em que princípios de ordem ético-jurídica conduzam ao único desfecho justo: decidir pela preservação da vida.
6 – Não se pode apegar, de forma rígida, à letra fria da lei, e sim, considerá-la com temperamentos, tendo-se em vista a intenção do legislador, mormente perante preceitos maiores insculpidos na Carta Magna garantidores do direito à saúde, à vida e à dignidade humana, devendo-se ressaltar o atendimento das necessidades básicas dos cidadãos.
7 – Recurso ordinário provido para o fim de compelir o ente público (Estado do Paraná) a fornecer o medicamento Riluzol (Rilutek) indicado para o tratamento da enfermidade da recorrente.” (STJ, 1ª Turma, Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 11183, Rel. Min. José Delgado, DJU 10.12.2002) (não grifado no original)
A batalha na defesa dos interesses e direitos dos portadores de doenças que demandem tratamento especializado de alto custo não termina com a pacificação da jurisprudência dos tribunais nacionais. Todos os envolvidos com este trabalho precisam e devem continuar lutando para que o poder público disponibilize tratamentos mais eficientes, independentemente de
provocação pelo Poder Judiciário. Enquanto isto não ocorre, é necessário atentar para a proteção dos direitos de cada paciente negligenciado pelo Estado.
Fonte: Revista Consultor Jurídico, 12 de fevereiro de 2007

13 fevereiro 2007

Célula de pêlo gera camundongos clonados

Núcleos extraídos dos folículos capilares foram mais eficientes na produção de clones. Achado pode apontar novo caminho para produção de células-tronco embrionárias.
Mais de dez anos após o nascimento da ovelha Dolly, a clonagem continua envolta em mistério. O processo ainda é brutalmente ineficiente e cheio de problemas técnicos. Pesquisadores nos Estados Unidos, usando camundongos, parecem ter descoberto uma forma de melhorar a eficiência e a praticidade da tecnologia: usar as células que dão origem aos pêlos, que são abundantes e de fácil acesso e manipulação.
Ao contrário do que se poderia imaginar, porém, os pesquisadores da Universidade Rockefeller, em Nova York, não estão interessados em criar cópias genéticas de incautos arrancando deles um fio de cabelo. A idéia deles é facilitar a produção de células-tronco a partir de embriões clonados. As células-tronco embrionárias são famosas por sua versatilidade: podem assumir a função de qualquer tecido do organismo. Se produzidas a partir de um clone de uma pessoa com problemas cardíacos, por exemplo, poderiam fornecer tecidos sem riscos de rejeição.
Daí o interesse do experimento com roedores. Elaine Fuchs, Peter Mombaerts e seus colegas usaram uma população específica de células dos folículos capilares. Elas pertencem a um tipo adulto de células-tronco, já que podem dar origem tanto a pêlos quanto a epiderme e glândulas sebáceas.
Ao injetar os núcleos dessas células em óvulos de camundongo sem núcleo, eles produziram embriões, os quais foram colocados no útero de mães de aluguel. No fim do processo, obtiveram filhotes clonados, com um grau de eficiência de 5,4% - o mais alto já obtido na clonagem da espécie.
Como as células dos folículos capilares são abundantes e de fácil acesso, os pesquisadores dizem acreditar que elas se tornarão a fonte-padrão de núcleos para os estudos de clonagem. Além do mais, esses núcleos são pequenos, o que facilita o trabalho de injetá-los nos óvulos.
Entretanto, há um senão curioso: a eficiência só foi grande no caso de clones de camundongos machos. Como isso aconteceu em outras técnicas de clonagem também, os pesquisadores especulam que fêmeas talvez sejam intrinsecamente mais difíceis de clonar. O motivo seria a presença, em fêmeas, de dois cromossomos X, em vez do X e Y dos machos.
Com dois cromossomos X, é preciso haver um sistema de desativação das cópias dos genes em um deles. Quando ocorre a transferência de núcleo que dá início a clonagem, todo esse sistema precisa ser "reiniciado", o que pode levar a uma série de erros fatais para o embrião.
O trabalho está na edição desta semana da revista científica "PNAS".
Fonte: G1

12 fevereiro 2007

As pessoas com deficiência física ganharam um novo aliado para se integrarem à vida digital.

O Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da UFRJ, responsável por várias iniciativas nessa área, acaba de lançar o software MicroFênix v 2.0 para comunicação de vítimas de paralisias graves com seus computadores.
O programa funciona principalmente à base de sons - não comandos vocais, mas qualquer tipo de som emitido pela boca do deficiente.
Segundo o professor Antonio Borges, do NCE, há outros softwares interessantes para pessoas com sérios problemas motores, como o Mouse Ocular (já abordado aqui no caderninho), mas nem sempre os usuários conseguem controlar a contento as pálpebras, daí a opção pelo som no programa.
No MicroFênix o usuário se vale de um microfone ligado ao computador para navegar por menus diversos - explica Antonio Borges.
- Ele não precisa falar, basta fazer um som qualquer com os lábios ou bater com eles no microfone para descer pelas opções, e fazer mais um som para entrar numa delas.
O programa roda em várias versões do Windows, do 98 ao XP. Há vários tipos de menus (que também podem ser acessados pela tecla Control, caso a pessoa possa usá-la): acesso ao mouse, a Meus Documentos, à barra Iniciar, ao browser web; acesso a movimentos básicos de scroll ou cursor (sobe, desce, esquerda, direita etc); e acesso ao teclado virtual (maiúsculas, minúsculas, acentos, números...).
Gratuito, o software (só 4Mb) pode ser baixado em http://intervox.nce.ufrj.br/microfenix.
Fonte: Rede Saci

10 fevereiro 2007

Estudo explica resistência de antibióticos

Doenças bacterianas antes fáceis de tratar estão se tornando desafios maiores. Trabalho comprovou que medicamentos criam bactérias mais resistentes.
Há muito tempo os médicos presumiam que o mau uso de antibióticos gerava agentes patogênicos resistentes a medicamentos, mas um estudo publicado nesta sexta-feira (09) na revista científica "The Lancet" finalmente deu evidências de como isto ocorre.
Doenças bacterianas antes fáceis de tratar, como tuberculose, gonorréia, tifo e pneumonia, estão se tornando desafios maiores à medida que os germes evoluem para cepas que superam a capacidade da ciência de contê-las.
O novo estudo fornece evidências claras de que o uso de antibióticos inadequados ao tipo de bactéria tratada pode piorar este problema de resistência. Em uma experiência, Surbhi Malhotra-Kumar e uma equipe de microbiólogos da Bélgica e da Holanda empregaram dois antibióticos da classe macrolida -- claritromicina e azitromicina -- que são comumente prescritos para infecções nos brônquios, em dois grupos de 74 pessoas selecionados ao acaso.
Os cientistas também deram um placebo para um terceiro grupo de controle. Os indivíduos que tomaram os medicamentos não ficaram doentes. O objetivo era monitorar o efeito dos remédios em bactérias streptococci, que são componentes normais e inofensivos da flora bucal.
O veredicto foi contundente. A azitromicina gerou rapidamente um grande número de bactérias resistentes à macrolida, enquanto a claritromicina encorajou a emergência de uma forma altamente resistente.
Esta forma não era apenas mais resistente à macrolida, mas também mostrou uma resistência maior aos antibióticos lincosamida, estreptogramina B e tetraciclina. O estudo descobriu que os antibióticos tiveram um efeito duradouro de mais de 180 dias em bactérias orais.
Em outras palavras, a bactéria inofensiva se tornou um reservatório em potencial do DNA resistente a medicamentos de agentes patogênicos. A penicilina é normalmente a arma escolhida para conter formas danosas de streptococci, mas os médicos freqüentemente recorrem à macrolida se um paciente for alérgico a esta droga.
Em um comentário deste trabalho, Stephanie Dancer, microbióloga do Southern General Hospital, em Glasgow, Escócia, disse que a descoberta dá evidências cruciais para sustentar um problema comumente observado sobre antibióticos prescritos ou usados de forma errada.
"Todos nós pudemos ver o que estava acontecendo, mas agora temos uma prova", disse, em entrevista.Os efeitos podem ser ainda maiores, advertiu Dancer. "É um problema imenso, que afeta qualquer agente antimicrobiano que o homem já descobriu", afirmou. "Estamos desperdiçando um recurso precioso".
Ela acusou, particularmente, as compras de antibióticos sem receita na internet, e apelou para o lançamento de uma campanha de conscientização pública para combater o mau uso dos antibióticos.
Fonte: G1

09 fevereiro 2007

A arte de ser avó

Netos são como heranças, você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu... É como dizem os ingleses, um Ato de Deus.
Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade trata-se de um filho apenas suposto.
O neto é, realmente, o sangue do seu sangue, filho do filho, mais filho que filho mesmo... Cinquenta anos, cinquenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava.
Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as suas compensações: todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto, mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentir seus ossos,às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores com suas paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essa efervescência.
A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade.
Bracinhos de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor.
Meu Deus, para onde foram as suas crianças?
Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que tem sogro e sogra, cônjugue, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres adultos; não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê.
Completamente grátis, nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choros, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida.
Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um filho seu que lhe é devolvido. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância.
Ao contrário, causaria espanto, decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixados pelos arroubos juvenis.
É quando vai embalar o menino e ele, tonto de sono abre o olho e diz: " Vó ", seu coração estala de felicidade, como pão no forno!
Raquel de Queiroz

07 fevereiro 2007

Medicamentos Importados

No prédio da Varig, anexo ao Aeroporto Santos Dumont existe a facilidade de
aquisição de medicamentos importados.
Se vocês conhecem alguém que precisa tomar remédios importados, esta é uma boa dica. A Fundação Rubem Berta, em parceria com a VARIG, presta um serviço de caráter humanitário na compra de medicamentos não fabricados no Brasil, sem qualquer ônus quanto aos serviços de compra e transporte, ficando a cargo do solicitante somente o custo do medicamento.
O contato deve ser feito por meio do setor de medicamentos:
VARIG - Aeroporto de Congonhas - portaria 3 com Simone (Medhelp) - Fone: (11) 5091-2250.

06 fevereiro 2007

Células-tronco: quando poderemos nos tratar com elas?

Toda vez que falo em células-tronco (CT), surge imediatamente a pergunta: "Quando essas pesquisas poderão se transformar em tratamento? Quanto tempo ainda teremos que esperar, cinco, dez, vinte anos?".
É uma pergunta muito difícil de responder. Por outro lado, recebo centenas de e-mails de pessoas com os mais diversos problemas, que querem ser cobaias e submeter-se a um tratamento com essas células -- aparentemente milagrosas. A maioria tem doenças graves, algumas progressivas e letais, o que justifica sua pressa e angústia. Mas outras querem tratar problemas como calvície ou impotência com CT. Será que acreditam que as CT vão ser a panacéia para todos os males? Que doenças poderão ser tratadas?
Em primeiro lugar, é fundamental que não se confunda tratamento com tentativa terapêutica. Pessoas com problemas cardíacos, derrame, diabetes, lesões medulares, esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica já receberam injeções de CT. Em todas elas, retiraram-se CT da medula óssea da própria pessoa, para reinjetá-las em outro órgão (por exemplo, o coração).
Esse procedimento, que seria algo como um "auto-transplante", tem a vantagem de não ocasionar rejeição. Mas, por outro lado, não traria resultados em doenças genéticas (porque todas as células do indivíduo estão afetadas).
Além disso, o potencial de CT obtidas da medula óssea -- capazes de formar diferentes tecidos -- ainda não é conhecido. Só podemos falar hoje de tratamento com CT no caso de doenças hematológicas como leucemia ou alguns tipos de anemias. Nos outros casos, trata-se de pesquisas experimentais, onde os benefícios clínicos ainda precisam ser comprovados.
Se por um lado, a terapia celular com CT representará um salto gigantesco na medicina, nem todas as doenças poderão ser tratadas com essa abordagem. Um problema importante a ser contornado é o risco de formarem-se tumores. Quanto mais primitiva for a CT (como é o caso da célula-tronco embrionária), maior o seu potencial de formar diferentes tecidos; mas também de originar tumores, se injetada no organismo.
Qual "ordem" uma célula, ainda no embrião, recebe para se diferenciar em músculo, sangue, osso ou qualquer outro tecido? Quem comanda esse "show"? Entender esse processo vai ser muito importante para que possamos controlá-lo. Como eu trabalho com doenças neuromusculares, onde os pacientes afetados têm uma degeneração progressiva da musculatura, quero que as CT (uma vez injetadas no organismo) estejam comprometidas a formar somente músculo, e não outro tecido. Isso é fundamental, antes de falarmos em tratamento.
Sempre digo que as pesquisas são como a construção de uma casa, onde cada resultado corresponde a um tijolinho. Um dia chegaremos ao telhado -- e a casa poderá abrigar muita gente. Uma pesquisa publicada por um grupo de pesquisadores italianos, na revista "Nature" de 16 de novembro pode significar muitos tijolinhos. Esses cientistas injetaram um tipo especial de CT adultas (chamadas de mesoangioblastos) em cães afetados por uma forma de distrofia muscular progressiva (DMP), muito semelhante a DMP humana. (Nessas doenças ocorre uma degeneração progressiva da musculatura, e, nas formas mais graves, como na distrofia de Duchenne, meninos afetados perdem a capacidade de andar por volta dos 10 anos de idade.) Quatro dentre seis cães italianos tratados mostraram uma recuperação significante do músculo e uma melhora clínica. Para nós, que estamos fazendo pesquisas semelhantes na Universidade de São Paulo, esses resultados foram uma injeção de ânimo.
Estou convencida de que, no futuro, conseguiremos refazer não só tecidos em laboratório, mas também órgãos, abolindo para sempre a fila de transplantes. Porém, ainda temos que fazer muitas pesquisas (no laboratório e em modelos animais), antes de podermos falar em tratamento seguro, sem risco de vida para os pacientes. Como esse assunto gera uma enorme expectativa nas pessoas afetadas, é fundamental que esse tema seja debatido e esclarecido por cientistas à medida que as pesquisas avançam. O trabalho publicado pelo grupo italiano sugere que, talvez, possamos chegar ao telhado da casa mais rápido do que pensávamos. E abrigar muita gente.
Mayana Zatz
Mayana Zatz é geneticista, pró-reitora de pesquisa e diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo. Também trabalha há décadas com aconselhamento genético, ajudando famílias sob risco de desenvolver problemas de saúde de origem hereditária.
Fonte: O Globo

05 fevereiro 2007

E se fosse possível clonar seres humanos? Você estaria preparado?

Clonar seres humanos? A idéia, hoje, seria uma loucura. As experiências com animais clonados, depois da ovelha Dolly, mostraram que, além da eficiência baixíssima (ao redor de 1%) da clonagem bem-sucedida, praticamente todos os animais que foram originados a partir de células diferenciadas (ou seja, não embrionárias) tiveram problemas graves: envelhecimento precoce, gigantismo, malformações múltiplas, problemas imunológicos, musculares e muitos outros.
Aliás, um dado altamente relevante é que pelo menos um terço deles teve morte prematura - inclusive a ovelha Dolly. Essa é a razão que levou as academias de ciência de 63 países ao redor do globo a se posicionarem contra a clonagem reprodutiva humana. Acredito que esse é um risco que não podemos (e não devemos, fazendo jus a condutas legais, éticas e morais) correr.
Entretanto, meus caros leitores, não podemos nos iludir. Trata-se de um processo irreversível...
Com certeza, às escondidas, em algum lugar do planeta, há cientistas experimentando. A tentação é muito grande. O sonho da “vida eterna” sempre foi perseguido pelo ser humano. Tanto é que existem “malucos” pagando uma fortuna para ter seu corpo congelado em nitrogênio líquido. Essas pessoas muito provavelmente pagariam também para ter um clone próprio, pela ilusão de ter uma cópia de si mesmo - que “garantisse” a sua continuidade biológica.
Mas enquanto hoje o risco biológico está acima de qualquer consideração ética ou moral, talvez algum dia seja possível clonar seres humanos sem riscos de malformações ou doenças. E, quando essa data chegar, com ela surgirão inúmeras questões éticas: por que clonar? Quem deveria ser clonado? Quem irá decidir?
Podemos imaginar diversas situações. Por exemplo, um casal cujo filho morreu em um acidente, e deseja ter o filho de volta. Sabemos, racionalmente, que um clone nunca será exatamente igual ao original (da mesma maneira que gêmeos idênticos também não o são). Mas e se o filho morto ainda fosse um bebê? Nesse caso, não haveria muito como comparar o clone com o bebê falecido. E ambos, sob os olhos da emoção, seriam idênticos...
Certamente muitos de vocês perguntarão: “por que não ter outro filho no lugar de tentar clonar o que morreu?”. Mas quem somos nós, afinal, para julgar essa atitude? Só quem perdeu um filho sabe a dor que isso representa, - e a vontade imensurável, pulsando em seu peito, de tê-lo em seus braços novamente...
Uma outra situação seria a de uma mulher que não pode ter filhos, porque teve de retirar os ovários ainda jovem devido a um acidente (um câncer, por exemplo). A partir de uma célula diferenciada dessa mulher, seria possível produzir seu próprio clone; e ele seria inserido em um útero – no dela, se tivesse sido mantido - ou de uma barriga de aluguel.
O fato é que o único objetivo desse feto clonado seria o de produzir os óvulos que ela deixou de fabricar; isso porque, no sexo feminino, todos os óvulos são produzidos na fase fetal. Nessa hipótese, a gestação seria então interrompida, os óvulos do feto retirados. Então eles poderiam ser fertilizados por espermatozóides – como ocorre em qualquer processo de fecundação assistida – e, enfim, formariam embriões.
Esses embriões seriam então implantados em um útero, (no dela ou de uma barriga de aluguel) e poderiam gerar um bebê normal. Ou seja: não seria fabricado um clone daquela mulher, mas a técnica de clonagem reprodutiva seria usada para permitir que ela engravidasse. Você acharia isso ético ou não?
Se hoje, em muitos países do mundo, permite-se interromper uma gestação só porque ela não é desejada, pergunto: porque não gerar um feto para permitir o nascimento de um filho? Será que os conceitos de ética serão os mesmos daqui a 20, 30 ou 50 anos?
Mais polêmico seria clonar um indivíduo adulto para ajudar casais estéreis a terem filhos, como defende o médico italiano Severino Antinori. Clonar a mãe ou o pai, eis a primeira questão. Suponhamos que tal resposta venha a partir do “par ou ímpar”, e a sorte determine que o clone será feito a partir de uma célula do marido.
Para uma mulher apaixonada, possuí-lo em “dose dupla” (numa versão mais madura e noutra mais jovem) deve ser uma situação – à primeira vista - maravilhosa.
Mas e se acontecer o contrário? Imagine que o casal se separe, com um divórcio litigioso, depois de muita briga: além de odiar aquele ex-marido ela agora tem de agüentar uma cópia dele?
E se o rapaz conhece aquela moça linda e é uma paixão a primeira vista? Não demora muito, ele a pede em casamento e quer conhecer a sua família. Ela então lhe conta “o” segredo: foi clonada a partir da mãe. E ao conhecer o clone que a originou (30 anos mais velha), o choque é inevitável: “É assim que ficará aquela mocinha linda, trinta anos mais tarde?”.
E já pensaram como se sentiria a pessoa mais velha que gerou o clone ao ver a sua cópia 30 anos mais jovem? Imagino que deve ser como aquela sensação de ver uma roupa em um modelo e se imaginar igual – até que você se vista e se olhe no espelho.
A verdade é que, toda vez que olharmos para os nossos pais e vemos neles características de que não gostamos (rugas, calvície, pneus de gordura, reumatismo), pensamos: isso não vai acontecer comigo! (Quando se é jovem, mais ainda, pois não acreditamos que, algum dia, também ficaremos velhos.)
E se tivéssemos sido clonados? Estaríamos nos vendo 30 ou 40 anos mais velhos. Não haveria como escapar.
Será que no futuro estaremos preparados para isso?
Mayana Zatz
Fonte: G1

02 fevereiro 2007

Empresário britânico cria banco de células-tronco
O mega-empresário britânico Richard Branson, dono das empresas de entretenimento Virgin, anunciou que vai criar um banco onde famílias poderão armazenar células-tronco retiradas dos cordões umbilicais de bebês recém-nascidos.
Muitos acreditam que as células possam ser usadas no futuro para tratar condições como Mal de Parkinson e câncer.
Algumas empresas britânicas já oferecem este serviço, embora obstetras e outros especialistas digam que há "evidências insuficientes" para que a prática seja recomendada.
Acredita-se que alguns milhares de casais britânicos já tenham armazenado células-tronco de seus filhos.
Em alguns casos, os pais recebem kits de coleta que são enviados para processamento e armazenagem. Outras empresas enviam um profissional para colher o sangue.
Acesso
A Virgin diz que o serviço que pretende oferecer será único porque o banco, chamado de Virgin Health Bank, vai incluir um aspecto beneficente: a empresa vai permitir que o Serviço Nacional de Saúde britânico, NHS na sigla em inglês, utilize algumas das células armazenadas.
Richard Branson explicou: "Vamos extrair o sangue do cordão umbilical e dividi-lo em duas partes".
"Uma parte vai para um banco nacional de sangue a que qualquer pessoa pode ter acesso. A outra metade vai ser guardada para a criança".
Branson disse que a iniciativa deve ajudar particularmente grupos étnicos de alto risco suscetíveis a certas condições que podem ser tratadas com células-tronco.
Muitas vezes, essas pessoas têm dificuldade em encontrar células-tronco do tipo certo.
O Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG na sigla em inglês) disse que apóia um aumento na quantidade de bancos públicos de células-tronco e a disponibilização desse material para uso internacionalmente, o que coincide com uma das prioridades estabelecidas pelo Virgin Health Bank.
Em relatório publicado no ano passado, a entidade disse que os hospitais britânicos armazenam cerca de duas mil amostra de sangue retirado de cordões umbilicais por ano. O material pode ser usado por qualquer pessoa que precise de um transplante desse tipo de célula.
Fonte: BBC

01 fevereiro 2007

Somos seres únicos

31 janeiro 2007

Enfermos con ELA y ganas de vivir

Luchar, vivir cada día como si fuera el último y disfrutar de las cosas pequeñas con su mujer y sus hijos. Juanjo Salguero, de 35 años, vive sobre una silla de ruedas; come y hace sus necesidades a través de sondas y, a veces, una máquina le ayuda a respirar. No puede mover ni brazos ni piernas. Sin embargo, cada día que gana a la muerte es un regalo.
"Comprendo a Madeleine. No lo haría, pero hay momentos duros", dice una enferma
"El cuerpo se muere poco a poco, pero la cabeza la tengo bien", cuenta Juanjo
Juanjo tiene esclerosis lateral amiotrófica (ELA), una enfermedad neurodegenerativa que en España padecen unas 6.000 personas. La misma patología que tenía Madeleine Z., la mujer de 69 años que el día 12 de enero se suicidó en su casa de Alicante. "Cuando el médico me dijo lo que tenía, salí llorando. Ahora lo he aceptado", dice hablando con dificultad. La evolución de su enfermedad es muy rápida. Se la diagnosticaron en 2003 y hoy ya tiene afectados extremidades, habla, respiración y deglución.
"El cuerpo se muere poco a poco, pero la cabeza la tengo bien", dice. Mientras la enfermedad progresa, la capacidad intelectual se mantiene intacta. "Es como estar en una cárcel de alta seguridad", dice tristemente. Pese a su situación, Juanjo descarta acabar sus días como Madeleine. "Yo tengo familia, y ella estaba prácticamente sola", afirma con convencimiento. Juanjo, como los otros protagonistas de esta historia, hablan de Madeleine como si la conocieran. Ellos saben por lo que pasó la mujer, aunque lo afrontan de forma diferente.
La ELA es incurable y no tiene tratamiento. "Es una enfermedad tan autodestructiva que cada uno debe decidir si seguir luchando o no", explica Eduardo Rico, médico y enfermo. La decisión de Juanjo ha sido luchar. "Mi padre murió con 55 años. Antes me parecía una edad muy corta. Ahora daría lo que fuese por llegar a ella", dice mientras observa a sus dos hijos, de tres y seis años y a su mujer, María José, de 37, quien trabaja desde casa para cuidarle. La vida de Juanjo es ver la televisión, jugar al ordenador -que maneja con la cabeza-, e ir a rehabilitación. "Lo que más echo de menos es jugar con mis hijos", dice este antiguo vigilante de seguridad. "Hay días en los que pienso en no despertar, pero es un instante. Luego miro a mi mujer y a los niños, y se me pasa. Quiero ser una carga muchos años más", asegura, en referencia a la decisión de Madeleine.
Los amigos son un gran apoyo. Uno de ellos es Mariano, también con ELA. Se conocieron a través de Adela, la Asociación de Esclerosis Lateral Amiotrófica de Madrid, que agrupa a unos 900 enfermos. "Me encanta liarla y animo a Juanjo. Hacemos carreras de sillas de ruedas", dice Mariano, gesticulando con el brazo que aún mueve. A este ex policía de 52 años le diagnosticaron en 2004. Hace dos no puede caminar. Pero lo que peor lleva es saber que algún día dejará de hablar. "Si no hablo, reviento", dice bromeando ante la mirada de su mujer, Carmen. Ella y sus dos hijos, de 20 y 22 años, son su vida. "Si no les tuviera a ellos, si estuviera solo, no querría vivir. De momento sigo teniendo muchas ganas", dice.
Carmen y Mariano viven con los 1.388 euros de la pensión de él. Ven con esperanza la Ley de Dependencia. "Tenemos muchos gastos. Esta enfermedad es cara", explica la mujer.
"El quebranto económico en estas familias es grandísimo", asegura Adriana Guevara, presidenta de Adela. "La ELA es una lucha continua, para el enfermo y para la familia. Una lucha anímica y económica. La Ley de Dependencia ayudaría mucho", explica esta mujer que ha visto morir de la enfermedad a nueve miembros de su familia.
Las manos de Micaela -el nombre es supuesto. "Llámame Micaela, por lo de ELA", dice- empezaron a marchitarse en 2001. "Poner una simple pinza al tender me costaba mucho, y fui al médico", recuerda esta castellana de 52 años. Así empezó su peregrinaje hasta que le diagnosticaron ELA. Tardaron meses. "El médico me dijo que me fuera de vacaciones -ríe-, eso nos viene bien a todos. Hay mucho desconocimiento", se queja.
El desconocimiento y la falta de unidades de tratamiento bien equipadas es lo que denuncia la Fundación Española para la investigación de la Esclerosis Lateral Amiotrófica (Fundela). "En teoría, en Madrid hay cinco unidades multidisciplinares, pero en la práctica es mentira. Los enfermos están mal atendidos. En la del hospital Carlos III, una de las más grandes, no hay neumólogo", afirma Maite Solas, vicepresidenta de la Fundación. "Sin la esperanza de la investigación no hay luz al final del túnel".
Micaela está de acuerdo: "¿Es más importante llegar a la luna o curar enfermedades?". Era relaciones públicas, pero dejó de trabajar hace tres años. Su marido, empresario, también abandonó su profesión para poder cuidarla. Los dos viven de la pensión de ella y de los ahorros de años.
La pérdida de fuerza en las manos pasó a los brazos y a las piernas. Hoy Micaela necesita una silla de ruedas. "Comprendo a Madeleine. No lo haría porque aún tengo muchas cosas pendientes por hacer, pero esta enfermedad tiene momentos muy duros", dice. "Sé que cada vez será más difícil, pero intento aprovechar el día a día", reflexiona.
Agustín conoce muy bien ese día a día. Ha vivido de cerca la enfermedad de la que han muerto su madre, sus tres hermanos y algunos primos. Este taxista de 64 años tiene la rama genética de la ELA. Cuando se la diagnosticaron, hace 13, ya eran viejas conocidas. "El día que me lo dijeron me desesperé, pensé en mi madre y en mis hermanos. Luego lo asimilas", cuenta moviendo suavemente las manos.
"Los nueve años que trabajé después del diagnóstico fueron mi salvación", explica. Tuvo que dejarlo hace tres. Ahora Agustín apenas puede andar con muletas, mueve con dificultad los brazos y se conecta a un respirador por la noche. Además, tiene dolores, algo poco común en esta enfermedad. "Sin el apoyo de mi mujer, de la familia, no podría", cuenta. Agustín tiene dos hijos de 30 y 32 años y una nieta, Irene, de nueve meses. La niña le mira con sus grandes ojos castaños. "Ella nos da la vida. También mis hijos", dice sonriendo. "Lo peor es pensar que a ellos también les puede tocar tener ELA
Fonte: Fundela

16 novembro 2006

nnoCentive Coloca Desafio de Seeker (Buscadora de Soluções) de US$ 1 Milhão Para Descoberta de Biomarcador

Objetivo é Encontrar um Biomarcador Para Esclerose Lateral Amiotrófica (ALS)
ANDOVER, Mass.--(BUSINESS WIRE)--A InnoCentive anunciou que a Prize4Life.Inc., organização sem fins lucrativos fundada para acelerar a pesquisa da doença de Lou Gehrig, ofereceu um incentivo de US$ 1 milhão para ajudar a aperfeiçoar o tratamento de Esclerose Lateral Amiotrófica. "Esse importante desafio para identificar um biomarcador de ALS é um esforço para identificar uma medida específica para a doença que possa ajudar na detecção e resposta à terapia", disse Jill A. Panetta, Ph.D., diretor científico da InnoCentive.
"Os biomarcadores válidos melhorarão nosso entendimento do processo patológico em ALS e nossa capacidade de avaliar a eficácia do tratamento", disse Robert H. Brown, M.D., D.Phil. Brown é membro do Conselho Científico da Prize4Life, bem como fundador e diretor do Day Neuromuscular Research Laboratory, diretor da Muscular Dystrophy Association Clinic do Massachusetts General Hospital e professor de neurologia da Harvard Medical School. Brown acrescentou "Os marcadores podem potencialmente acelerar os protocolos de descobertas de drogas e substancialmente reduzir o tempo e as despesas de testes clínicos em ALS."
"Estamos honrados por fazer parceria com a Prize4Life para acelerar a pesquisa de ALS, permitindo-lhe aproveitar nossa comunidade de solução de problemas de mais de 110 mil cientistas", disse Ali Hussein, diretor de marketing e presidente de mercados globais da InnoCentive. "Nossa rede representa o meio mais rápido e eficiente para as instituições de pesquisa compartilhar suas inovações com as comunidades empresariais que podem desenvolver essas descobertas para o mercado", acrescentou Hussein. "A Prize4Life colocou esse desafio no website da InnoCentive, reconhecendo que essa abordagem é um meio eficiente para reunir uma ampla diversidade de idéias e abordagens científicas na esperança de tratar rapidamente essa doença significante", disse Hussein.
Os pesquisadores e cientistas interessados em oferecer uma solução para os desafios de biomarcador devem se registrar no website da InnoCentive, www.innocentive.com.
Sobre a Prize4Life

A Prize4Life é uma organização sem fins lucrativos orientada para resultados fundada para acelerar a pesquisa de ALS (doença de Lou Gehrig) oferecendo prêmios substanciais para cientistas que resolvem os problemas científicos mais críticos antecipando a descoberta de um tratamento efetivo para ALS. Para obter informações adicionais sobre a Prize4Life ou para fazer doações, visite www.prize4life.org.
Sobre a InnoCentive
A InnoCentive é o primeiro fórum online que permite a cientistas de nível mundial e companhias baseadas em ciência colaborarem em uma comunidade científica global para o alcance de soluções inovadoras para desafios complexos. As companhias, que incluem Dow AgroSciences, Eli Lilly and Company, Procter & Gamble e outras, que coletivamente despendem bilhões de dólares em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e colocam problemas científicos de maneira confidencial no website da InnoCentive onde mais de 110 mil cientistas e organizações científicas em mais de 175 países podem solucioná-los. Os cientistas que oferecerem soluções que melhor atendam aos requisitos do desafio da InnoCentive receberão prêmios financeiros que podem chegar a mais de US$ 100 mil. Para saber mais e registrar-se como Solver (apresentador de soluções) da InnoCentive, visite o website da InnoCentive em www.innocentive.com.

Células-tronco são testadas em cães

Estudo de pesquisadores da Fundação San Raffaele del Monte Tabor, de Milão (Itália), publicado ontem na revista científica Nature, mostrou que aplicações de células-tronco foram usadas com sucesso em cachorros que sofriam de distrofia muscular. Após o tratamento, os animais que estavam debilitados e com dificuldades de locomoção conseguiram andar e pular mais rápido. De acordo com os cientistas, esse tipo de tratamento pode ser útil no futuro em seres humanos, ajudando a minimizar e retardar os efeitos da distrofia muscular.
Fonte: O Estado S.Paul

09 novembro 2006

Cientistas 'restauram' visão de ratos cegos com células-tronco

Cientistas britânicos anunciaram ter restaurado a visão em ratos cegos por meio de transplantes de células-tronco na retina das cobaias.
A experiência, descrita na última edição da revista científica Nature, representa uma esperança para milhares de pessoas que sofrem de problemas de visão semelhantes aos dos ratos.
No estudo, células-tronco retiradas de ratos de até cinco dias de idade foram colocadas na retina de cobaias já geneticamente modificadas para perder gradualmente a visão devido a doenças semelhantes à retinite pigmentosa ou a degeneração macular.
Os cientistas transplantaram as células-tronco para a região da retina onde estão as células que recebem a luz e a traduzem em impulsos elétricos, permitindo ao cérebro interpretar o que é captado pelos olhos.
Em tentativas anteriores de usar as células-tronco para reestabelecer a visão, as células não se desenvolveram de forma satisfatória em células fotoreceptoras.
Mas, na experiência descrita na Nature, realizada por cientistas do Instituto de Oftalmologia e Pediatria da University College London e do Hospital Oftalmológico Moorfields, ambos de Londres, as células-tronco já foram transplantadas em um estágio desenvolvimento mais avançado, quando se transformavam em células fotoreceptoras.
Testes feitos depois do transplante mostraram que os ratos passaram a responder à luz e que seus nervos ópticos passaram a ter atividade.
Fonte: BBC

07 novembro 2006

Cientistas querem criar embrião com óvulos de vacas

Cientistas britânicos pediram autorização do governo para criar embriões híbridos a partir da combinação de células humanas e óvulos de vacas, com o objetivo de avançar nas pesquisas sobre células-tronco.
Os pesquisadores da Universidade de Newscastle e do King's College, de Londres, querem que a Autoridade de Embriologia e Fertilidade Humana emita uma licença de três anos que, segundo eles, abrirá caminho para o desenvolvimento de tratamentos para doenças como mal de Parkinson e Alzheimer.
Eles alegam que os embriões humano-bovinos seriam utilizados apenas em pesquisas de células-tronco e que só deixariam que eles se desenvolvessem por alguns dias.
A idéia é vista, no entanto, como antiética e potencialmente perigosa por entidades como o Conselho Escocês de Bioética Humana, por exemplo.
As células-tronco podem adquirir múltiplas funções no corpo humano. Embriões com cinco dias de vida são cheios desse tipo de célula, que tem o potencial de se transformar em qualquer tecido do corpo. É justamente nessa habilidade que os cientistas apostam para tratar doenças atualmente consideradas incuráveis.
O argumento dos cientistas é que para avançar nas pesquisas eles precisariam ter acesso a milhares de embriões. O problema é que faltam embriões humanos para pesquisas. Além disso, eles só podem ser obtidos por meio de cirurgia.
Surgiu daí a idéia de usar óvulos animais para substituir óvulos humanos.
"Nós entendemos que o desenvolvimento de linhas de células-tronco embriônicas de indivíduos sofrendo de formas genéticas de desordens degenerativas vão estimular pesquisas básicas e o desenvolvimento de medicamentos novos para tratar essas terríveis doenças cerebrais", disse o cientista do King's College Stephen Minger.
Os pesquisadores inseririam material genético humano num óvulo bovino cujo material genético teria sido previamente removido. O seguinte passo seria criar um embrião com a mesma técnica usada na clonagem da ovelha Dolly.
O embrião resultante dessa fusão seria 99,9% humano, o único elemento bovino seria o DNA do exterior da célula. Tecnicamente, portanto, seria uma quimera, criatura parte humana, parte animal.
Em vez de deixá-los se desenvolver, os cientistas dizem que os destruiriam depois de seis dias, tempo que seria suficiente para a formação das células-tronco.
Os especialistas, então, retirariam o material genético e avaliariam a sua qualidade e a viabilidade de usá-lo como o material advindo de processos que empregam óvulos humanos.
Os cientistas também planejam examinar a forma como as células são reprogramadas depois da fusão a fim de saber se existem processos que podem ser reproduzidos em laboratório.
"Se nós pudermos aprender, a partir (da observação) do óvulo, como produzir células-tronco embrionárias sem ter de usar um óvulo animal, nós poderemos ser capazes de curar doenças como o mal de Parkinson ou doenças relacionadas à idade que estão criando um grande fardo para a sociedade", disse Lyle Armstrong, cientista que coordena os estudos sobre o embrião híbrido.
Mas para o Conselho Escocês de Bioética Humana as pesquisas violam a ética científica e os direitos humanos.
"Na história da humanidade espécies animais e humanas têm sido separadas", afirmou um representante do Conselho, Calum MacKellar.
"Nesse tipo de procedimento, você está misturando óvulos animais com cromossomos humanos num nível muito profundo e pode começar a minar toda a distinção entre humanos e animais" , acrescentou.
Par MacKellar, isso minaria a dignidade do ser humano.
Fonte: BBC

03 novembro 2006

Alzheimer, 100 anos: otimismo na ciência

Domínio dos processos moleculares deve resultar em novas drogas
No começo do século 20, uma paciente de 51 anos intrigava o neuropatologista alemão Alois Alzheimer com um quadro de perda de memória e delírios enciumados em relação ao marido. Ele pouco pôde fazer por ela em vida, mas ao estudar seu cérebro após a morte, descobriu um acúmulo de placas e emaranhados de proteína que viriam esclarecer um mal que acomete hoje mais de 20 milhões de pessoas no mundo. Há exatamente cem anos Alzheimer descrevia a doença que leva o seu nome e é considerada a causa mais comum de demência em idosos.
Por ano, cerca de 4,6 milhões de pessoas são diagnosticadas com a doença neurodegenerativa, que começa apagando memórias recentes e evolui até destruir completamente o hardware cerebral, deixando o paciente sem lembrança nenhuma, podendo chegar à morte.
Um século depois da descoberta, a ciência já aprendeu muito sobre a biologia molecular da doença e pela primeira vez se refere a ela com uma ponta de esperança. O principal avanço foi entender como atuam duas proteínas fundamentais ao mecanismo, a beta-amilóide e tau, que às vezes são metabolizadas de um modo anormal, gerando um processo conhecido como 'cascata amilóide', que desencadeia o problema.
As placas de proteína se acumulam então entre os neurônios, fazendo com que as sinapses entre eles diminuam e as células morram. Além disso já foram encontrados genes ligados à disfunção das proteínas.
Mas, apesar de todo esse conhecimento, ainda não há cura nem tampouco prevenção ao mal que atinge cerca de 5% das pessoas com mais de 65 anos, e 20% daqueles com mais de 80 anos. 'Ainda temos dúvidas. A maior delas é que não conhecemos as ligações entre a beta-amilóide e a tau', escrevem os pesquisadores Michel Goedert e Maria Grazia Spillantini, da Universidade de Cambridge, na revista Science (www.sciencemag.org) de hoje, que faz um balanço do que a ciência já sabe da doença e aponta os desafios que ainda existem pela frente.
Por décadas, por se imaginar que a doença era rara e ocorria apenas entre pessoas de 50/60 anos, pouco se estudava sobre ela. Somente no final dos anos 60, quando se entendeu que as características encontradas por Alzheimer eram as mesmas presentes em vítimas de demência senil, houve uma extensão do conceito e as pesquisas se tornaram mais comuns.
'A partir da década de 90, houve um avanço extraordinário', afirma o neurologista Ricardo Nitrini, um dos coordenadores do Projeto Envelhecimento Cerebral da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e que há 30 anos trata pacientes com a doença.
Ele conta que quando começou a lidar com a moléstia, quase não havia esperança. 'Hoje é possível ser otimista. Não digo que a cura virá para as pessoas que já estão apresentando a doença, mas talvez para os jovens de hoje, quando eles envelhecerem.' Enquanto isso, acredita Nitrini, podemos esperar por medicamentos que tratem os sintomas de modo mais eficiente ou que pelo menos adiem o surgimento deles para idades mais avançadas.
NOVAS TERAPIAS
De fato, as novidades não param de surgir. A Science traz outro artigo que mostra para onde estão caminhando as novas drogas. Erik D. Roberson e Lennart Mucke, do Instituto de Doenças Neurológicas da Universidade da Califórnia, contam que já estão sendo feitos testes clínicos com diversas estratégias para bloquear a formação das placas de beta-amilóide no cérebro e recuperar neurônios da degeneração.
Outros estudos, menos avançados, tentam criar drogas para atuar sobre a ação de uma outra proteína, a apolipoproteína E, que ajuda a agrupar a beta-amilóide em conglomerados e filamentos.
A dupla lembra que na década de 90, quando foram descobertos os processos envolvidos na produção da proteína beta-amilóide, muita gente imaginou que a cura para a doença de Alzheimer era enfim algo possível de alcançar. 'Um pequeno esforço para desenvolver um inibidor de protease e o fim estaria próximo. Hoje há um consenso de que múltiplas drogas serão necessárias.'
Já se sabe, por exemplo, que a doença atinge as pessoas de modos diferentes. Os medicamentos que já existem têm algum tipo de efeito em no máximo 60% dos pacientes. Os demais, ou não toleram a medicação ou não alcançam nenhum benefício com o tratamento.
'A necessidade de criar drogas com diferentes modos de ação e para regimes individualizados impõe desafios. É preciso uma melhor sinergia entre indústria e academia para melhorar a transição da identificação do alvo e o desenvolvimento de drogas', escrevem os autores. O objetivo principal é prolongar as habilidades cognitivas dos pacientes e manter sua qualidade de vida pelo maior tempo possível.
Mas enquanto a cura não vem, ganham espaço também pesquisas que defendem a prevenção, a partir de uma dieta equilibrada e exercícios regulares. Alimentação saudável a base de verduras, frutas, peixes e azeite de oliva parece colaborar para retardar o início da doença. Acredita-se que atividades físicas também desempenhem esse papel.
Fonte: O Estado S.Paulo

01 novembro 2006

Células-tronco e a fertilidade feminina

Muitas mulheres têm retardado a idade em que decidem ter filhos. Como a fertilidade diminui a partir dos 35 anos, e aos 45 poucas mulheres são férteis, muitas vezes elas descobrem que já não são férteis quando decidem engravidar. A redução da fertilidade se deve ao fato de as mulheres nascerem com um número fixo e limitado de óvulos imaturos que não são repostos ao longo da vida. Recentemente foi proposto que células-tronco presentes no sangue poderiam penetrar nos ovários e se transformar em óvulos. Se isso fosse verdade, seria possível utilizar tais células-tronco para prolongar a fertilidade feminina.
Mas um experimento recente sugere que a teoria provavelmente não é verdadeira.
Os cientistas utilizaram um camundongo fêmea transgênico no qual foi inserido um gene extraído de uma água-viva chamado “gene da proteína fluorescente verde”, que produz uma proteína fluorescente. Por esse motivo, todas as células desses camundongos brilham no escuro emitindo uma luz verde (parece o brilho de um interruptor no escuro) da mesma maneira que as águas-vivas de onde o gene foi retirado.
A cor permite identificar facilmente uma célula proveniente dos camundongos mesmo no meio de milhares de células normais.
Por meio de uma cirurgia, os cientistas conectaram fêmeas “verdes” a fêmeas normais e assim obtiveram pares ligadas uma à outra como gêmeas siamesas. Nessa operação os cientistas interligaram o sistema circulatório das duas provocando a mistura de seu sangue. Se examinarmos o sangue que circula nas fêmeas vamos encontrar uma mistura de células verdes e células normais. A cirurgia faz com que as células-tronco de cada uma delas entre em contato com o ovário da outra. Assim, se uma célula-tronco originária do sangue de uma fêmea verde penetrar no ovário da normal e vier a produzir óvulos, eles podem ser identificados por sua cor.
Após esperar meses para que as células possam ter a oportunidade de invadir os ovários, os cientistas examinam os óvulos produzidos pelas fêmeas normais à procura de óvulos verdes. Caso tivessem incorporado as células-tronco de suas parceiras e as células tivessem originado óvulos, os óvulos deveriam ser verdes. Quando os resultados foram analisados, os cientistas descobriram que em nenhum caso as fêmeas normais produziram óvulos verdes.
Ficou demonstrado que, ao menos em camundongos, a teoria de que células-tronco invadem os ovários e podem gerar novos óvulos caiu por terra. Parece que todos os óvulos produzidos pelas fêmeas já estavam nos seus ovários e que nenhum óvulo novo foi produzido pelas células-tronco que invadiram os ovários.
Quanto às mulheres, elas provavelmente podem perder a esperança de estender sua fertilidade com transplantes de células-tronco. Em vez de esperar uma solução biotecnológica para o problema, talvez seja hora de a sociedade criar mecanismos que permitam às mulheres conciliar seu desenvolvimento profissional com a necessidade biológica de ter filhos antes dos 35 anos.
Mais informações em Ovulated oocytes in adult mice derive from non-circulating germ cells, na Nature, volume 441, página 1.109, de 2006.
Fonte: O Estado S.Paulo

23 outubro 2006

Célula tronco pode provocar tumor no cérebro

Estudo em ratos com Parkinson mostrou riscos do transplante de células embrionárias.
Um estudo científico publicado ontem deu mais um alerta de que as promissoras células-tronco embrionárias ainda precisam ser encaradas com cuidado. Injetá-las no cérebro de pessoas com mal de Parkinson pode levar à formação de tumores, concluiu a pesquisa.
A equipe do cientista Steven Goldman, da Universidade do Centro Médico de Rochester, em Nova York, descobriu que as células-tronco humanas injetadas no cérebro de ratos se transformaram em células pré-tumorais. A equipe de Goldman publicou a descoberta na revista Nature Medicine.
Acredita-se que no futuro males hoje fatais possam ser curados com a aplicação de células-tronco embrionárias. Encontradas nos embriões, elas são capazes de se transformar em qualquer tecido do corpo. No caso de Parkinson, o objetivo é que se convertam em células nervosas, para substituir as danificadas, que deixaram de produzir dopamina (substância química das células nervosas relacionada à função motora). Em estágios avançados, a principal característica da doença é a paralisia física. Remédios podem retardar o avanço, mas não curar a doença.
Os cientistas de Nova York disseram que os transplantes conseguiram ajudar os ratos com uma doença equivalente a Parkinson, mas que algumas das células começaram a crescer de tal forma que acabariam se transformando em tumores.
Em algumas áreas do cérebro dos ratos, as células transplantadas não se transformaram em células nervosas que liberam dopamina. Começaram a se dividir de forma desordenada, o que potencialmente as transformaria em tumores. Os pesquisadores sacrificaram os animais antes que se soubesse, com certeza, se eles desenvolveriam câncer. Disseram que qualquer experimento parecido em humanos teria de ser feito com muita precaução.
Esse sempre foi um medo dos cientistas no uso de células-tronco embrionárias e é um dos argumentos dos inimigos das pesquisas com esse material, como o presidente dos EUA, George W. Bush. Dizem também que é imoral destruir um embrião - o que equivaleria a assassinato - para obter células-tronco.
Fonte: O Estado S.Paulo

Célula tronco pode provocar tumor no cérebro

Estudo em ratos com Parkinson mostrou riscos do transplante de células embrionárias
Um estudo científico publicado ontem deu mais um alerta de que as promissoras células-tronco embrionárias ainda precisam ser encaradas com cuidado. Injetá-las no cérebro de pessoas com mal de Parkinson pode levar à formação de tumores, concluiu a pesquisa.
A equipe do cientista Steven Goldman, da Universidade do Centro Médico de Rochester, em Nova York, descobriu que as células-tronco humanas injetadas no cérebro de ratos se transformaram em células pré-tumorais. A equipe de Goldman publicou a descoberta na revista Nature Medicine.
Acredita-se que no futuro males hoje fatais possam ser curados com a aplicação de células-tronco embrionárias. Encontradas nos embriões, elas são capazes de se transformar em qualquer tecido do corpo. No caso de Parkinson, o objetivo é que se convertam em células nervosas, para substituir as danificadas, que deixaram de produzir dopamina (substância química das células nervosas relacionada à função motora). Em estágios avançados, a principal característica da doença é a paralisia física. Remédios podem retardar o avanço, mas não curar a doença.
Os cientistas de Nova York disseram que os transplantes conseguiram ajudar os ratos com uma doença equivalente a Parkinson, mas que algumas das células começaram a crescer de tal forma que acabariam se transformando em tumores.
Em algumas áreas do cérebro dos ratos, as células transplantadas não se transformaram em células nervosas que liberam dopamina. Começaram a se dividir de forma desordenada, o que potencialmente as transformaria em tumores. Os pesquisadores sacrificaram os animais antes que se soubesse, com certeza, se eles desenvolveriam câncer. Disseram que qualquer experimento parecido em humanos teria de ser feito com muita precaução.
Esse sempre foi um medo dos cientistas no uso de células-tronco embrionárias e é um dos argumentos dos inimigos das pesquisas com esse material, como o presidente dos EUA, George W. Bush. Dizem também que é imoral destruir um embrião - o que equivaleria a assassinato - para obter células-tronco.
Fonte: O Estado S.Paulo

21 outubro 2006

Muito além do tubo de ensaio

Muita gente ainda pensa que cientista é aquele “ser esquisito”, enfiado no laboratório, desligado ou desinteressado do mundo exterior.
Quanto aos geneticistas (como eu), é ainda muito pior: “Estão tentando clonar seres humanos, matando embriões, manipulando genes, interferindo no ambiente, tentando brincar de Deus!”. E, na realidade, não é nada disso.
Somos pessoas iguais a todo mundo: amamos, rimos, sofremos, gostamos de ir ao cinema, brincar, ter amigos... Temos interesse sobre que está na moda (mesmo que, muitas vezes, não tenhamos tempo para ir atrás!). Até gostamos de fofocar!
Mas, no lugar de querer saber quem está namorando quem, ficamos excitadíssimos ao descobrir, por exemplo, que quando a proteína X não interage com a Y, podemos ter uma doença muscular. Ou, quando possível, gostamos de participar das decisões políticas -- que podem afetar tanto as pesquisas quanto a nossa população.
O que nos move é uma enorme curiosidade de tentar entender os fenômenos biológicos que se passam o tempo todo no nosso corpo, a fim de descobrir coisas novas.
Essa tríade “curiosidade–fenômeno–possibilidade de descoberta” se torna um berçário de questões -- e são elas que nos motivam a pesquisar, dia após dia.
São dúvidas que, confesso a vocês, freqüentemente nos perseguem também à noite ou nos fins de semana. Trata-se de um processo sem fim; porque, a cada resposta, abre-se um leque de novos questionamentos.
É justamente esse o fascínio da pesquisa. Como geneticistas, queremos saber quantos genes temos, o que eles fazem, como interagem com o ambiente. No caso daqueles que trabalham diretamente com doenças (como eu), tentamos incansavelmente remeter nossas descobertas a um propósito maior: ajudar aqueles que sofrem. Lutar para melhorar sua qualidade de vida, procurar uma cura!
E vocês, leitores? Não gostariam de saber para que serve toda essa pesquisa? De compreender como os resultados desses novos avanços científicos, tão divulgados pela mídia (Projeto Genoma Humano, clonagem humana, terapia celular com células-tronco, seleção de embriões) irão afetar o nosso dia-a-dia?
Para que servem os bancos de cordão umbilical? Quais são suas aplicações médicas? E suas implicações éticas? Será que o Projeto Genoma Humano irá responder algumas perguntas que nos atormentam,como: por que ficamos doentes, engordamos, envelhecemos, morremos, reagimos diferentemente a medicamentos? Ou quanto os nossos genes influenciam a nossa personalidade e comportamento? Como funcionam a nossa memória, nossos sentimentos, nossas emoções?
E o mais importante: será possível, no futuro, manipular tudo isso?
Quais são os limites éticos? O que é verdade e o que é ficção?
Tempos atrás conheci uma jornalista francesa, Caroline Glorion, que me entrevistou sobre aspectos éticos relacionados aos avanços da genética.
- Quanto esses assuntos são debatidos em sociedade?
- Muito pouco, respondi.
Infelizmente estão restritos a ambientes acadêmicos...
Contudo, acho que todos deveriam participar.
Essa é exatamente a proposta dessa coluna. Relatar histórias de pacientes (vivenciadas durante o aconselhamento genético), que trazem questionamentos fundamentais: éticos, culturais, sociais, emocionais. Traduzir em linguagem acessível diversos assuntos científicos.
Queremos auxiliá-los a compreender melhor esse meio e suas respectivas incógnitas; bem como convidá-los a opinar, criticar, interagir conosco.
Mais que isso: buscamos principalmente estimulá-los e encorajá-los a participar de decisões políticas, que dizem respeito a todos nós: cidadãos. Mayana Zatz
Fonte: G1

18 outubro 2006

Células-tronco e o dilema ético

Há pouco mais de um mês, pesquisadores da Advanced Cell Technology anunciaram na revista Science terem desenvolvido técnica que seria capaz de criar colônias de células-tronco embrionárias sem que fosse necessário destruir o embrião. A destruição do embrião constitui a maior objeção ética apresentada ao desenvolvimento das pesquisas envolvendo células-tronco e suas aplicações práticas. Embora a referida técnica ainda não tenha sido confirmada por outros pesquisadores, a comprovação de sua eficácia poderá neutralizar o impasse ético e contribuir para o avanço da medicina regenerativa.
Para tanto, a própria Advanced Cell Technology anunciou, em 12 de setembro, ter celebrado um acordo com o WiCell Research Institute para que colônias de células-tronco — desenvolvidas através da nova técnica — sejam distribuídas a pesquisadores norte-americanos. A intenção é comprovar a utilidade destas células-tronco e convencer o Congresso estadunidense a rever a vedação de financiamento federal a pesquisas que as envolvam.
Em que pesem os recentes avanços das pesquisas com suas equivalentes adultas, o uso de células-tronco embrionárias parece ser o que admite escala de produção suficiente à viabilidade econômica de sua eventual utilização clínica no futuro.
O interesse econômico afeto ao tema é inquestionável: a possibilidade de patenteamento de técnicas de conversão de células-tronco para diferentes tecidos do corpo humano ou de sua utilização para a cura de doenças como Alzheimer, Parkinson, diabetes ou ainda lesões físicas irreversíveis torna clara a imensurabilidade dos lucros que daí possam advir.
A União Européia tem investido milhões na EuroStemCell, um consórcio comunitário voltado para a pesquisa sobre células-tronco com sede na Escócia e centros de desenvolvimento em Inglaterra, Japão, Austrália e Estados Unidos. Apesar da resistência de alguns países-membros, o financiamento público dessas pesquisas foi aprovado para o período de 2007 a 2013 e estará disponível para países onde tal prática é permitida. Nos Estados Unidos, não obstante o presidente Bush ter vetado o financiamento federal de pesquisas com células-tronco, a Califórnia, através da proposição nº 71, reservou US$ 300 milhões anuais, pelos próximos dez anos, para tais estudos.
Consultores da Bain & Company estimam que o mercado de terapias baseadas em células-tronco deverá girar em torno de US$ 100 milhões em 2010, podendo alcançar US$ 2 bilhões em 2015. O desenvolvimento de terapias contra diabetes e os males de Alzheimer e Parkinson tem sido uma demanda constante da indústria farmacêutica, podendo resultar em ampliação de mercado e vultuoso incremento nos lucros do setor. Com efeito, a geração de tecidos através de células-tronco tem tido resultados promissores. Pesquisa cardiológica realizada pelo hospital universitário Charité, de Berlim, demonstrou ser possível criar válvulas cardíacas sob medida com a utilização de células-tronco.
Investimentos em engenharia genética voltados para pesquisas sobre tecidos do coração só tendem a aumentar, pois os problemas decorrentes de insuficiência cardíaca consistem na principal causa de hospitalização e morte entre pacientes com mais de 65 anos.
No Brasil, as pesquisas com células-tronco, permitidas sob condições determinadas pela Lei Federal nº 11.105/2005, têm sido realizadas destacadamente pelos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que abrangem o Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto e o Centro de Estudos do Genoma Humano, em São Paulo. Empresas privadas do setor podem obter recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia. Investimentos privados, contudo, ainda se mostram insuficientes, desproporcionais ao interesse econômico representado pelo promissor mercado de terapias que se utilizam de células-tronco
Fonte: DCI