04 agosto 2006

Células-tronco

A aparente flexibilidade das células-tronco adultas e seu potencial para regenerar tecidos acaba de ganhar novo fôlego. Pesquisadores nos Estados Unidos usaram células-tronco adiposas, responsáveis pela formação de gordura no organismo humano, para criar o chamado músculo liso, fundamental para o funcionamento de diversos órgãos.
O estudo foi coordenado por Larissa Rodríguez, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e está na edição de hoje da revista científica "PNAS" (www.pnas.org), uma das maiores dos EUA. "Esse tecido gorduroso pode se tornar uma fonte confiável de células musculares lisas [responsáveis por movimentos involuntários nos intestinos e na bexiga], que nós usaríamos para regenerar e reparar órgãos danificados", disse Rodríguez em comunicado.
Já havia evidências (controversas, é verdade) de que algumas células precursoras dos tecidos adiposos conseguiam dar origem a tecidos tão diversos quanto ossos e neurônios. Capacidades parecidas foram relatadas a respeito das células-tronco da medula óssea.
Como ambos os tipos de célula são de origem adulta e podem ser obtidos do próprio paciente que necessita ter seus tecidos reconstruídos, poderiam significar uma saída para o dilema ético que circunda as células-tronco embrionárias. É que essas, as únicas cuja versatilidade está comprovada, só podem ser obtidas a partir da destruição de um embrião.
Rodríguez e seus colegas decidiram enfocar apenas a criação das células musculares lisas, em parte porque a pesquisadora, que é urologista, tem como meta reconstruir o aparelho urinário de mulheres que sofreram lesões. Eles cultivaram as células-tronco do tecido adiposo junto com substâncias específicas, que favorecem, em condições normais, o desenvolvimento dos músculos lisos.
Entrou então em cena o bioengenheiro Benjamin Wu, colega de Rodríguez. Ele criou uma maneira de observar se as novas células realmente se contraíam sob o estímulo de fármacos. "Descobrimos que as células passaram a funcionar exatamente como as de músculos lisos", afirmou ele. Os pesquisadores dizem esperar que o método se popularize, já que a extração das células adiposas é relativamente simples.
Versatilidade de adultas é polêmica
Apesar de uma série de promissores estudos preliminares, os pesquisadores ainda não sabem muito bem o que acontece com as células-tronco adultas que aparentemente assumem uma enorme gama de funções diferentes.
No Brasil, por exemplo, pacientes com doenças cardíacas em estado avançado melhoraram um bocado quando receberam células-tronco da medula óssea. Mas dados obtidos com animais sugerem que as células podem, na verdade, estar se fundindo às já existentes no coração, ou apenas favorecendo o surgimento de novos vasos sangüíneos em vez de realmente se transformar em músculo cardíaco.
Por outro lado, as células embrionárias, apesar de todo o seu potencial, são difíceis de controlar e, por enquanto, inseguras.
Fonte: Folha de São Paulo