02 outubro 2006

Cientistas clonam ratos sem usar células-tronco

Cientistas da universidade norte-americana de Pittsburgh conseguiram clonar dois ratos a partir de células sangüíneas retiradas de um animal adulto, mostrando que o processo de clonagem não tem que partir necessariamente de células-tronco.
As células-tronco são células imaturas, capazes de se transformar em outros tipos de células que compõem tecidos e órgãos. Elas podem ser embrionárias, encontradas em embriões ou em tecido fetal, ou adultas, ainda sem função específica mas encontradas em tecidos especializados de animais adultos, como pele, medula óssea, intestino e outros.
Até agora, acreditava-se que quanto menos madura a célula, mais fácil seria reprogramá-la para que tivesse outras funções.
Mas a pesquisa feita nos Estados Unidos e publicada na revista Nature Genetics defende que células maduras e diferenciadas, ou seja, com função especializada no corpo, podem ser bastante eficientes se usadas para se criar um clone.
Processo
O processo de clonagem consiste em criar um embrião retirando o núcleo de uma célula e colocando este material genético num óvulo não-fertilizado que teve o seu material genético removido.
O embrião que resulta desta operação é uma cópia genética exata da célula do animal ou pessoa que doou o núcleo.
O estudo realizado na Universidade de Pittsburgh usou células sangüíneas chamadas leucócitos granulócitos em vários estágios de desenvolvimento - desde células-tronco até células totalmente maduras - para ver qual seria a melhor na criação de clones de ratos.
Entre 35 e 39% dos granulócitos maduros se transformaram em embriões em estágio inicial, chamados blastocistos.
Quando células-tronco adultas foram usadas, apenas 4% produziram blastocistos.
Além disso, só os granulócitos completamente maduros foram capazes de gerar dois filhotes de rato clonados, apesar de ambos terem morrido algumas horas depois do nascimento.
Células-tronco embrionárias
Para checar os resultados obtidos, os pesquisadores tentaram ainda criar clones usando células-tronco embrionárias, tiradas de blastocistos.
Quase 50% delas se tornaram embriões e 18 ratos clonados nasceram vivos.
No entanto, o uso de células-tronco embrionárias é controverso, já que os críticos defendem que qualquer embrião - seja ele criado em laboratório ou não - tem o potencial de se transformar em um ser humano, o que tornaria os experimentos condenáveis moralmente.
A nova técnica desenvolvida pela equipe liderada pelo professor Tao Cheng nos Estados Unidos pode ser uma alternativa viável a esse procedimento.
Cheng afirma que seu estudo provou que não há vantagem alguma em usar células-tronco adultas em vez de outros tipos de células maduras.
"Podemos dizer com quase 100% de certeza que células como os granulócitos mantêm a capacidade genética de funcionar como uma semente, que pode gerar todos os tipos de células necessárias para desenvolver um organismo inteiro", diz ele.
Humanos
O especialista em células-tronco do King's College London Stephen Minger se disse surpreso com os resultados do estudo americano.
"Até agora pensava-se que quanto menos madura a célula, mais fácil seria reprogramá-la. Este trabalho sugere o contrário. Alguns tipos de células maduras podem ser mais fáceis de se reprogramar que o esperado", disse ele.
"Mas claro que isso só foi testado com ratos e pode haver grandes diferenças quando se trata de humanos. Seria interessante ver se o mesmo acontece com células humanas."
A pesquisa americana aumenta as esperanças de que este tipo de procedimento seja usado na cura de doenças.
Defensores da "clonagem terapêutica" querem algum dia poder retirar uma única célula de uma pessoa adulta e criar, a partir dela, tecidos e órgãos para transplantes.
Fonte: BBCBrasil