16 fevereiro 2007

A maldade é genética?

Os brasileiros assistiram mais uma vez, chocados, a um crime bárbaro: o assassinato de uma criança inocente, arrastada por quilômetros no Rio de Janeiro, com uma crueldade indescritível.
Com triste lembrança e associação a outros crimes hediondos, como os praticados por Suzane von Richthofen, “Champinha” ou os bandidos de Bragança Paulista (que atearam fogo no carro); levanta-se uma questão muito polêmica: será que não existe uma predisposição genética para tanta maldade?
Cientistas que estudam o comportamento humano sugerem que várias características de nossa personalidade (como espírito de liderança, timidez ou simpatia, entre outras) dependeriam de uma interação entre os nossos genes e o ambiente. Esse tipo de herança é denominada “multifatorial”.
Várias doenças humanas ou problemas de saúde também obedecem a esse padrão. A tendência à hipertensão é um exemplo. Ou seja: as pessoas que nascem com essa predisposição genética só ficariam hipertensas quando submetidas a condições ambientais desfavoráveis (fumo, estresse, obesidade ou alimentação inadequada etc.), unindo assim fatores genéticos e ambientais.
Chocada com as manchetes atuais, pergunto-lhes, caros leitores: será que existem genes predisponentes à maldade ou a comportamentos como os desses bandidos, que cometeram essa atrocidade com um menino de apenas seis anos? Ou será que a pessoa se torna assassina porque foi criada em um ambiente violento, sem família ou com privações?
Afinal, nosso instinto natural é o de proteger uma criança, mesmo que não seja nosso filho. Aliás, isso é tão forte que acontece também no reino animal. Quantas vezes não vimos fêmeas amamentarem filhotes que perderam suas mães, numa tentativa (provável) de preservar a espécie?
Se existem dúvidas em relação a um “instinto assassino”, existem evidências (a partir de experimentos feitos com gêmeos ou filhos adotivos) comprovando que em outras características comportamentais -- tais como o alcoolismo -- há um componente genético importante.
Uma das experiências mais interessantes nesse sentido foi feita há alguns anos, por um grupo de pesquisadores que resolveram estudar como macacos se relacionam com o álcool, em uma pesquisa envolvendo um grupo de mil animais (macacos vervet no Caribe).
Observaram que 15% deles se tornaram alcoólatras; no outro extremo, também havia cerca de 10 -15% que não chegavam nem perto da bebida. O restante do grupo (ou seja, 70% dos animais) tomava a bebida em doses pequenas e não aumentava o consumo -- mesmo em situações com uma oferta maior.
Em seguida, os pesquisadores fizeram uma nova experiência: “qual era o horário preferido para a ingestão da bebida?”
Verificaram, então: aqueles que se tornaram viciados, preferiam beber de manhã, em jejum, ou com a bebida misturada à água. Por outro lado, os 70% (que bebiam em quantidade moderada) preferiam tomar o álcool no fim da tarde, misturada a alguma outra bebida doce, exatamente como acontece nos nossos “happy hours!”
Em resumo, a conclusão do estudo é que o comportamento dos macacos, em relação ao alcoolismo, é idêntico ao comportamento humano. Como esses animais não sabem o que é “socialmente” correto ou condenado, isso comprova que existe uma contribuição genética para a tendência ou não ao alcoolismo.
Se existe ou não uma predisposição genética relacionada a comportamentos criminosos é um assunto muito polêmico; objeto de grandes discussões entre geneticistas comportamentais, psicanalistas e psicólogos. Mas a maioria concorda que indivíduos capazes de fazer crimes bárbaros são irrecuperáveis.
Uma porcentagem enorme da população apóia a pena de morte para crimes como esses. Outros são contra e continuam defendendo os “direitos humanos” para esses bandidos.
Na minha opinião, não se trata de diminuir a idade penal ou de aumentar o tempo de reclusão. Para crimes como esses, deveria haver prisão perpétua, com trabalhos forçados. O nosso código penal tem que ser mudado urgentemente! A população inocente está clamando desesperadamente por isso.
Fonte: G1